Resumo e objetivos do Projeto

O projeto tem por objetivo ensaiar, avaliar e disseminar medidas destinadas a mitigar efeitos negativos de infraestruturas lineares em várias espécies de fauna e, simultaneamente, promover a criação, ao longo das mesmas, de uma Infraestrutura Verde de suporte ao incremento e conservação da biodiversidade do território em que atua, um importante corredor de transporte e energia entre Portugal e Espanha. Os trabalhos propostos assentam em sólido conhecimento da fauna/flora da área de projeto, anos de recolha de dados sobre mortalidade de fauna por atropelamento de fauna, e de uma forma invulgar o contexto socioeconómico em que se insere, na participação ativa de um conjunto de atores relacionados com a problemática e, com objetivos comuns de a resolver (incluindo gestoras/construtoras de infraestruturas, públicas e privadas, de âmbito local e nacional, apoiadas por instituições académicas com trabalho reconhecido).

A estratégia de intervenção do projeto tem por base conceptual a aplicação, pela primeira vez a uma escala integrada de apoio à decisão e execução de medidas de conservação, de conceitos que resultam da investigação do beneficiário principal na área do mapeamento da conetividade funcional e estrutural da paisagem para as espécies-alvo, que tem por fonte de informação o seu uso dos habitats e movimento.

Para assegurar o seu objetivo e resolver um conjunto de problemas identificados (redução da conetividade, mortalidade e efeito barreira das infraestruturas, mortalidade por electrocução, ausência de refúgios e corredores, escassez de informação para a gestão, e disseminação, deteção e controlo de flora invasora), o projeto integra um conjunto de ações, com uma atuação integrada e coerente para o conjunto do território, na sua maioria baseadas em soluções de caráter demonstrativo e inovador.

Inclui ainda trabalhos de monitorização alargados com os quais se pretendem avaliar as medidas implementadas em termos ecológicos, nas funções de ecossistemas e ao nível socioeconómico. O projeto integra ainda trabalhos dirigidos à disseminação dos seus resultados junto de outros potenciais utilizadores (profissionais associados à problemática), tanto nacionais como internacionais. Espera-se assim promover a replicação dos trabalhos incluindo a criação noutros locais de Infraestruturas Verdes análogas, promovendo a conectividade da paisagem e os serviços dos ecossistemas a ela associados.

Os trabalhos propostos assentam num conhecimento profundo da fauna/flora da área de projeto baseado em anos de recolha de dados sobre a distribuição de espécies e mortalidade de fauna nas infraestruturas existentes. A intervenção baseia-se na aplicação, pela primeira vez a uma escala integrada de apoio à decisão e execução de medidas de conservação, de mapas de conetividade funcional e estrutural da paisagem para algumas espécies-alvo, elaborados com base no seu movimento e/ou preferência/uso dos habitats.

O que é uma Infraestrutura Verde?

Uma Infraestrutura Verde integra áreas naturais e seminaturais associadas às zonas urbanas e outras construções humanas proporcionado múltiplos benefícios aos cidadãos que as utilizam, incluindo as vantagens decorrentes da conservação da natureza, uma vez integram áreas de refúgio e corredores potenciais que promovem o fluxo de organismos, O princípio subjacente ao conceito de Infraestrutura Verde é a sua multifuncionalidade sendo a mesma dependente da manutenção dos ecossistemas que estiverem num estado saudável. Os investimentos em Infraestruturas Verdes são geralmente caracterizados por um alto nível de retorno ao longo do tempo, fornecendo oportunidades de emprego, podendo ser uma alternativa eficaz em termos de custo e constituir um complemento às infraestruturas ‘cinzentas’. Servem os interesses das pessoas e da natureza.

As zonas marginais associadas às vias de transporte e as linhas elétricas incluindo as bermas, as bases dos apoios e pequenas parcelas decorrentes de ajustamentos dos traçados, durante muito tempo ignoradas, são de extrema importância para refúgio e corredor potencial para muitas espécies. Se devidamente geridas, associando a esta gestão uma minimização dos seus impactes negativos, poderão constituir uma ferramenta importante para promover a conectividade da paisagem, particularmente em áreas mais alteradas pelos humanos.

O que é a Conectividade da Paisagem?

Em ecologia, a conectividade da paisagem é a capacidade da mesma para facilitar ou dificultar o fluxo de organismos entre os vários habitats. O grau de conectividade determina a intensidade da dispersão/ movimento entre áreas, o que influencia o fluxo genético, a adaptação local, o risco de extinção, a probabilidade de colonização e a capacidade para os organismos se movimentarem num contexto de alterações climáticas. Uma maior conectividade está normalmente associada a paisagens menos fragmentadas. As vias de transporte terrestre e as linhas elétricas, por limitarem os movimentos da fauna conduzem geralmente a uma redução da conectividade da paisagem.

A eleva proliferação das infraestruturas lineares é uma característica recente das sociedades humanas e ocorreu de forma exponencial a partir de meados do século passado. Portugal não é exceção, e o seu território é atravessado por dezenas de milhares de quilómetros de rodovias, ferrovias e linhas elétricas de transporte e distribuição de energia, sendo mesmo um dos países da Europa onde a densidade de estradas pavimentadas e autoestradas, per capita, é mais elevada. Atualmente, no Mundo e em Portugal, estas características longilíneas são uma característica comum das paisagens modernas, e as mais-valias económicas e sociais que lhe estão associadas são reconhecidas por todos.

O termo biodiversidade significa a variedade total da vida na Terra e inclui, os genes, as espécies, as comunidades e ecossistemas e os processos ecológicos nos quais estes intervêm. É difícil atribuir um valor monetário à biodiversidade. Várias equipas de cientistas e economistas tentaram fazer estimativas do valor global da biodiversidade e, na generalidade dos casos, chegaram a valores enormes e superiores aos inicialmente suspeitados. Muitos defendem mesmo que o facto da sobrevivência humana depender do normal funcionamento dos ecossistemas é condição necessária e suficiente para que aos bens e serviços associados à biodiversidade seja atribuído o valor supremo, que é inestimável.

As infraestruturas lineares têm efeitos negativos na biodiversidade. Dos impactes mais significativos salientam-se o incremento da mortalidade por atropelamento, colisão ou eletrocussão, a fragmentação e degradação dos habitats e o efeito barreira ao movimento dos organismos. As vias de transporte terrestre são também um canal privilegiado para a introdução de espécies exóticas invasoras através da disseminação de sementes pelos veículos que nelas circulam. Nos últimos 20 anos, as relações entre a presença destas infraestruturas e as comunidades naturais têm sido amplamente estudadas com vista a encontrar soluções que minimizem estes impactes. A maior parte das novas infraestruturas já integram passagens específicas para fauna ou a adaptação de outras estruturas (por exemplo manilhas de escoamento da água) que permitem que os animais atravessem as rodovias e ferrovias em segurança; vedações e outras estruturas que dificultam o acesso dos animais às vias reduzindo o risco de atropelamento; dispositivos anti poiso e sinalizadores que reduzem a mortalidade por eletrocussão e colisão em linhas elétricas. Contudo, em infraestruturas antigas, não sujeitas e avaliação de impacte ambiental, estas soluções raramente foram implementadas.

Linhas de investigação recentes testam novas soluções que visam alertar e manipular o comportamento dos animais afastando-os das zonas de risco. A aplicação destas e das anteriores soluções facilitam a criação de uma Infraestrutura Verde associada a estas “linhas” tornando-as” multifuncionais e mais sustentáveis.